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terça-feira, 18 de maio de 2010

Estudo Psicanalítico sobre a Neurose Obsessiva Compulsiva


Estudo Psicanalítico sobre a Neurose Obsessiva Compulsiva
(Texto Original escrito em 2002 - Prof. Marcos Oliveira)


Dentre as diversas e complexas manifestações neuróticas, sem dúvida nenhuma a que nominamos de neurose obsessiva compulsiva, afigura-se como a mais interessante e rica em conteúdos simbólicos. Porém, ao falarmos de “Conteúdos Simbólicos”, talvez o termo seja muito fraco para expressar o que de fato ocorre no núcleo dessa neurose, pois não estamos falando de uma montagem simbólica comum, o indivíduo afetado por tal desequilíbrio, age como se o símbolo fosse a “realidade”, e não uma mera representação da mesma.
Modernamente a neurose obsessiva compulsiva é denominada pela psiquiatria pelo Termo Técnico: Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Porém, o enfoque psiquiátrico moderno diverge da abordagem psicanalítica tanto na etiologia de tal neurose como no seu tratamento.
Nesse estudo, no entanto, não iremos tratar das “diferenças”, e sim das similitudes e complementações que ambas podem oferecer no tratamento dessa incômoda e persistente neurose.
Em minha experiência profissional, bem como na pesquisa da Literatura Psicanalítica, pude observar e alistar particularidades normativas que sempre estão presentes no comportamento neurótico compulsivo obsessivo.
O neurótico tem consciência da absurdidade de alguns de seus pensamentos, por isso, uma dolorosa dissociação se estabelece no ego, e a pessoa afetada fica atormentada pelas repetições ideativas.
Frente a esse fato, podemos definir as obsessões ideativas, como intensificações de pensamento ego-distônicos, recursivos e intrusivos, que leva o paciente a ser “pensado” pelos seus muitos pensamentos, gerando uma ansiedade atormentadora.
Objetivando aliviar a ansiedade causada pelas obsessões, o neurótico recorre a ações ritualizadas, essas por sua vez são chamadas de “Compulsões”.
Os atos compulsivos mais comuns, podem ser reduzidos a cinco categorias primárias: rituais envolvendo a verificação; rituais envolvendo a limpeza; pensamentos obsessivos sem compulsões; lentidão obsessiva e rituais mistos.
No tratamento analítico, o terapeuta não deve se apressar em acabar com o “sintoma”, pois como gratificação secundária, os sintomas obsessivos compulsivos podem estar impedindo uma desintegração psicótica no neurótico, o doente se agarra a seus “sintomas estranhos” para garantir seu equilíbrio egóico.
O analista deve estar interessado em descobrir a função inconsciente do sintoma, e a sua configuração compensatória no mundo intrapsíquico do afetado, desvendando pouco a pouco, em sua psicobiografia, como foi levado a montar reativamente certo tipo de sintoma.
Esse processo lento e gradativo mostra-se fundamental para a compreensão da organização simbólica do paciente, possibilitando a perlaboração dos conteúdos analisados, eliminando não só os sintomas, mas sim o núcleo de ansiedade básica atrás do fenômeno.

O Comportamento Obsessivo Compulsivo
Descreverei agora, alguns dos sintomas que aparecem com mais freqüência nessa neurose: lavar as mãos demoradamente inúmeras vezes durante o dia (alguns pacientes são levados a levantar-se durante a noite para fazê-lo); tomar longos e repetidos banhos por não se sentir limpo; passar a maior parte do tempo limpando as coisas; preocupar-se fanaticamente com germes e contaminações; verificar repetidamente se portas e janelas foram fechadas; dar valor excessivo a números ou a contagens (é como se quisessem ficar livres do tempo, porém, estranhamente, é a sua cronometragem que os prendem); pensamentos catastróficos (algo de ruim que pode acontecer a qualquer momento); simetria neurótica; pensamentos ligados a castigo e morte, etc...
De forma coerciva, essas pessoas são vítimas de suas compulsões; mesmo que racionalmente não queiram praticar suas “esquisitices”, são devastadas por uma enorme ansiedade que, por fim, as leva a ceder ao ritual neurótico.
Uma outra peculiaridade marcante é a busca pela perfeição, tanto intrapsiquicamente como extra psiquicamente. Sua exigência maior é encontrar aquilo que é perfeito, mesmo que racionalmente admita que tal exigência é absurda e frustrante.
O desequilíbrio gera uma acentuada ambivalência relacional, são capazes de ruminar interminavelmente uma pequena atitude, desgastando e fadigando qualquer pessoa de seu convívio.
Por causa do conflito interno, tudo que fazem requer muito esforço, podem criar uma “tempestade num copo d’água” na realização de qualquer atividade corriqueira, por mais simples que pareça.
Os pensamentos intrusivos se avolumam de tal forma na mente neurotizada, que é muito comum ficarem presos por uma cadeia interminável de pensamentos, que por vezes paralisam totalmente ações práticas, fazendo com que a “dúvida” seja a regra geral do comportamento compulsivo obsessivo. São fracos em tomar decisões, não sabendo como agir frente a escolhas banais do cotidiano.
Embora tudo isso se suceda ao neurótico obsessivo compulsivo, muitos deles conseguem levar uma vida como qualquer outro, são normalmente inteligentes e, portanto, capazes plenamente de estudar e trabalhar.
Sua capacidade psíquica não é totalmente prejudicada, e por terem consciência de seus “atos estranhos”, conseguem disfarçá-los no ambiente social.
É notório que as compulsões são exageradas quando a pessoa encontra-se em casa, por isso, ao mesmo tempo em que sua casa é um símbolo de proteção uterina, é também o palco de suas maiores angústias e fraquezas neuróticas.
Para que o processo analítico tenha bom êxito, o terapeuta precisa perceber em profundidade em que a dinâmica familiar influencia o paciente, pois muitas vezes o sintoma obsessivo é fomentado por uma organização familiar neurótica.
Quase sempre, para que o paciente tenha uma melhora significativa, o ambiente familiar deve ser readaptado às novas exigências do processo, sendo um meio facilitador e não um obstáculo intransponível.

Texto na integra www.sbph.com.br

ENTREVISTA COM FREUD


Eis uma das preciosidades encontradas na biblioteca da Sociedade Sigmund Freud: a entrevista concedida ao jornalista americano George Sylvester Viereck, em 1926.
Deve ter sido publicada na imprensa americana da época. Acreditava-se que estivesse perdida, quando o Boletim da Sigmund Freud Haus publicou uma versão condensada, em 1976.


Na verdade, o texto integral havia sido publicado no volume Psychoanalysis and the Future, número especial do "Journal of Psychology", de Nova Iorque, em 1957.
O link para a entrevista completa, em tradução de Paulo César Souza, vai no final.

Reproduzo, aqui, alguns trechos.

S. Freud: Setenta anos ensinaram-me a aceitar a vida com serena humildade.

(Quem fala é o professor Sigmund Freud, o grande explorador da alma. O cenário da nossa conversa foi uma casa de verão no Semmering, uma montanha nos Alpes austríacos. Eu havia visto o pai da psicanálise pela última vez em sua casa modesta na capital austríaca. Os poucos anos entre minha última visita e a atual multiplicaram as rugas na sua fronte. Intensificaram a sua palidez de sábio. Sua face estava tensa, como se sentisse dor. Sua mente estava alerta, seu espírito firme, sua cortesia impecável como sempre, mas um ligeiro impedimento da fala me perturbou. Parece que um tumor maligno no maxilar superior necessitou ser operado. Desde então Freud usa uma prótese, para ele uma causa de constante irritação).

S. Freud: Detesto o meu maxilar mecânico, porque a luta com o aparelho me consome tanta energia preciosa. Mas prefiro ele a maxilar nenhum. Ainda prefiro a existência à extinção. Talvez os deuses sejam gentis conosco, tornando a vida mais desagradável à medida que envelhecemos. Por fim, a morte nos parece menos intolerável do que os fardos que carregamos.

...

George Sylvester Viereck: Gostaria de retornar em alguma forma, de ser resgatado do pó? O senhor não tem, em outras palavras, desejo de imortalidade?

S. Freud: Sinceramente não. Se a gente reconhece os motivos egoístas por trás de conduta humana, não tem o mínimo desejo de voltar à vida; movendo-se num círculo, seria ainda a mesma. Além disso, mesmo se o eterno retorno das coisas, para usar a expressão de Nietzsche, nos dotasse novamente do nosso invólucro carnal, para que serviria, sem memória? Não haveria elo entre passado e futuro. Pelo que me toca, estou perfeitamente satisfeito em saber que o eterno aborrecimento de viver finalmente passará. Nossa vida é necessariamente uma série de compromissos, uma luta interminável entre o ego e seu ambiente. O desejo de prolongar a vida excessivamente me parece absurdo.

...

George Sylvester Viereck: O senhor já analisou a si mesmo?

S. Freud: Certamente. O psicanalista deve constantemente analisar a si mesmo. Analisando a nós mesmos, ficamos mais capacitados a analisar os outros. O psicanalista é como o bode expiatório dos hebreus. Os outros descarregam seus pecados sobre ele. Ele deve praticar sua arte à perfeição para desvencilhar-se do fardo jogado sobre ele.

...

George Sylvester Viereck: Ás vezes imagino se não seríamos mais felizes se soubéssemos menos dos processos que dão forma a nossos pensamentos e emoções. A psicanálise rouba a vida do seu último encanto, ao relacionar cada sentimento ao seu original grupo de complexos. Não nos tornamos mais alegres descobrindo que nós todos abrigamos o criminoso e o animal.

S. Freud: Que objeção pode haver contra os animais? Eu prefiro a companhia dos animais à companhia humana.

George Sylvester Viereck: Por quê?

S. Freud: Porque são tão mais simples. Não sofrem de uma personalidade dividida, da desintegração do ego, que resulta da tentativa do homem de adaptar-se a padrões de civilização demasiado elevados para o seu mecanismo intelectual e psíquico. O selvagem, como o animal, é cruel, mas não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade, pelas restrições que ela impõe. As mais desagradáveis características do homem são geradas por esse ajustamento precário a uma civilização complicada. É o resultado do conflito entre nossos instintos e nossa cultura. Muito mais agradáveis são as emoções simples e diretas de um cão, ao balançar a cauda, ou ao latir expressando seu desprazer. As emoções do cão (acrescentou Freud pensativamente) lembram-nos os heróis da Antigüidade. Talvez seja essa a razão por que inconscientemente damos aos nossos cães nomes de heróis antigos como Aquiles e Heitor.
...
George Sylvester Viereck: A psicanálise torna a vida um quebra-cabeças complicado.

S. Freud: De maneira alguma. A psicanálise torna a vida mais simples. Adquirimos uma nova síntese depois da análise. A psicanálise reordena um emaranhado de impulsos dispersos, procura enrolá-los em torno do seu carretel. Ou, modificando a metáfora, ela fornece o fio que conduz a pessoa fora do labirinto do seu inconsciente.
...
George Sylvester Viereck: O senhor ainda coloca a ênfase sobretudo no sexo?

S. Freud: Respondo com as palavras do seu próprio poeta, Walt Whitman: "Mas tudo faltaria, se faltasse o sexo" ("Yet all were lacking, if sex were lacking"). Entretanto, já lhe expliquei que agora coloco ênfase quase igual naquilo que está "além" do prazer - a morte, a negociação da vida. Este desejo explica por que alguns homens amam a dor - como um passo para o aniquilamento! Explica por que os poetas agradecem a

Whatever gods there be, That no life lives forever And even the weariest river Winds somewhere safe to sea. ("Quaisquer deuses que existam/ Que a vida nenhuma viva para sempre/ Que os mortos jamais se levantem**/ E também o rio mais cansado/ Deságüe tranqüilo no mar".)
...
(Acompanhado da esposa e da filha, Freud desceu os degraus que levavam do seu refúgio na montanha à rua, para me ver partir. Ele me pareceu cansado e triste, ao dar o seu adeus).

S. Freud: Não me faça parecer um pessimista (disse ele após o aperto de mão). Eu não tenho desprezo pelo mundo. Expressar desdém pelo mundo é apenas outra forma de cortejá-lo, de ganhar audiência e aplauso. Não, eu não sou um pessimista, não, enquanto tiver meus filhos, minha mulher e minhas flores! Não sou infeliz - ao menos não mais infeliz que os outros.

(O apito de meu trem soou na noite. O automóvel me conduzia rapidamente para a estação. Aos poucos o vulto ligeiramente curvado e a cabeça grisalha de Sigmund Freud desapareceram na distância).