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Psicanálise & Educação

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terça-feira, 11 de maio de 2010

A importancia da psicanalise na educãção- Continuação

...O que você vê como o ponto mais importante da abordagem de Winnicott para a questão da educação e da aprendizagem? Esse é um tema interessante. Eu poderia dizer, para ficar num único aspecto, que Winnicott percebeu uma coisa que outros psicanalistas não viram, e que é a espontaneidade e tudo aquilo que gira em torno dela ou de sua ausência. Que diferença há, por exemplo, entre um aluno que aprende bem porque é submisso e outro que aprende bem porque é espontâneo? Eu diria que a diferença está em que o aluno espontâneo talvez não tire notas tão boas quanto o submisso, mas terá muito mais curiosidade, terá muito mais idéias próprias, fará muito mais ligações entre as várias coisas aprendidas, e assim por diante. Conseqüência: ele usará bem melhor os conhecimentos adquiridos quando estiver fora da escola. Na minha opinião, essa diferença não era muito apreciada, até pouco tempo atrás. E então as escolas começaram a se preocupar com a espontaneidade e a não-submissão, mas acho que houve muita confusão nessa área, e muita gente meteu os pés pelas mãos tentando entortar para o lado de lá o que antes estava torto para o lado de cá. Winnicott discute tudo isso, mas a partir das próprias bases iniciais do desenvolvimento emocional da criança, e esse conhecimento a meu ver é fundamental para quem quer ter realmente uma boa noção de como funcionam crianças normais. (E também, obviamente, as que precisam de ajuda para chegar à normalidade ou ao menos perto dela.) E falo aqui de crianças porque elas são o “público alvo” disso que chamamos educação, não porque o que ele disse só é importante em termos de crianças.

Última pergunta: E essa questão do brincar, que importância tem para o processo da aprendizagem? Como eu disse antes, Winnicott deu grande importância ao fenômeno da espontaneidade. É como se até então a psicanálise considerasse que o indivíduo age a partir do esquema estímulo – resposta, e ele foi o primeiro a dar importância ao comportamento que na verdade não está respondendo a estímulo nenhum. Por isso ele fala da diferença entre agir e reagir, e o que sabemos é que muita gente – criança ou não – quase nunca consegue agir, em geral fica esperando que ocorra um estímulo para então reagir a ele. (Muita gente não sabe o que fazer nos fins de semana, por exemplo, ou num feriado. Fica perdida.) Winnicott percebeu que o indivíduo humano é naturalmente criativo desde o início, e que o bebê inventa brincadeiras espontaneamente. Disso todo o mundo sabe, é claro, mas até então ninguém percebeu o quanto isso era importante. Ora, justamente por isso essa espontaneidade poderia ser reprimida, impedida, e isso acontece muitas vezes desde muito cedo na vida do bebê. Quando esse desastre não acontece, a espontaneidade e a criatividade da criança naturalmente agem no sentido de fazer coisas, e de aplicar a fantasia (o “produto” da criatividade) aos movimentos e à manipulação de objetos – aquilo que chamamos de ‘brincar’. Com isso, a criança age sobre o mundo à sua volta, descobrindo coisas e inventando outras, pelo puro prazer de fazê-lo. Ela se sente agente, sujeito, ou outro nome que se dê a isso, e isto cria a capacidade de aprender como conquista, como exercício da própria vontade, o que é muito diferente de aprender como submissão à vontade do outro. E é justamente essa atividade – o brincar – que permite a esse processo de aprendizagem como conquista instalar-se e transformar-se na base de tudo aquilo que nós adultos chamamos de aquisição da cultura. O conhecimento, a cultura, portanto, do ponto de vista de Winnicott, podem ser algo de que a gente se apossa, ou algo que se apossa da gente. E qualquer pessoa (inclusive os professores) sente na própria pele a diferença entre essas duas possibilidades. É claro que não é possível a aprendizagem dentro da pura liberdade – não sei que fim levou, afinal, a famosa escola Summerhill, mas não parece ter feito tanto sucesso assim... Uma coisa, porém, é a liberdade apenas relativa, não total, e outra a ausência quase total de liberdade. É desse tipo de coisas que Winnicott fala, e a meu ver é até urgente que as pessoas voltadas para a educação e a aprendizagem prestem-lhe um pouco mais de atenção.

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